”Por que os teus discípulos desobedecem à tradição dos antigos? Eles não lavam as mãos quando vão comer!”

Em tempos de gripe suína e poluição generalizada, lavar as mãos é uma medida preventiva e até de bom senso, para evitar que o vírus e a sujeira se espalhem. O evangelho de Mateus 15 começa com uma crítica aos discípulos de Jesus . Os rigorosos observantes da Lei e das Tradições dos antigos queriam saber por que eles não tinham lavado as mãos antes da refeição. O questionamento ofereceu a oportunidade a Jesus de falar não somente do puro e do impuro, mas também da religiosidade perigosamente exterior deles, chamando-os de hipócritas.É evidente que a discussão não está no simples cumprimento da norma de lavar as mãos. Costume que, por sinal, com gripe ou sem gripe, é sempre muito bom para a nossa higiene pessoal. Aquele gesto, entendemos, representava a adesão incondicional à Lei e a todas as normas e preceitos que se tinham sobreposto ao cerne fundamental dela. Infelizmente os fariseus, com os quais Jesus polemizou muitas vezes, estavam demais preocupados com o cumprimento formal das normas, resultando no afastamento do verdadeiro sentido da Lei. Eles mesmos tinham caído na própria prisão. Ao dar excessivo valor às normas menores ou exteriores, ficaram presos a elas.Eles haviam perdido o significado verdadeiro da Lei de Deus: servir e honrar o Senhor com liberdade e criatividade, sempre atualizando o sentido e o valor dos seus mandamentos. Quem aceita sem entender certas normas e faz questão de respeitá-las a qualquer custo, corre o risco de que elas substituam a sua iniciativa e a sua responsabilidade pessoal. É o fazer por fazer, com a consciência em paz por ter feito o que deve ser feito, porque sempre foi feito assim, sem nunca se questionar. Dessa situação para a hipocrisia, que Jesus repreende, o passo é curto. Cumpre-se a rigor a norma, mas sem reconhecer o sentido e o valor. Poderíamos fazer muitas outras coisas boas, ou de maneira diferente. Não as fazemos porque estamos simplesmente satisfeitos com a obediência cega e vazia das normas codificadas.No caso de lavar as mãos, porém, Jesus quer nos conduzir além de uma questão de obediência ou não à Lei. Com efeito, se a “sujeira” fosse somente exterior um bom banho resolveria, entretanto se as atitudes erradas, a começar pelos maus pensamentos, vêm do nosso interior, é evidente que não tem detergente, nem álcool e nem gel, que consigam limpar o nosso coração. De um coração bom e sincero virão coisas boas e verdadeiras. De um coração mau, só poderão sair coisas más. Precisamos, portanto, “purificar” o nosso coração. De outra forma podemos falar bonito, ser exteriormente cheirosos e de bela aparência, contudo se não tivermos também bons pensamentos e muita vontade de fazer o bem, nada de bom mesmo conseguiremos realizar. Como profetizou Isaías: “Este povo me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim”.Sempre seremos tentados a lavarmos somente as nossas mãos, a ficarmos na exterioridade da nossa fé. Essa superficialidade pode condenar a morte não somente a Jesus, como aconteceu quando Pilatos lavou as suas mãos. Pode nos condenar a uma fé vazia, formal, talvez hipócrita. Jesus quer mudar o nosso coração. É mais difícil, porém esta é a alegria e o sentido de sermos cristãos.

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