Trinta minutos ecumênicos

O pastor permitiu que o padre ocupasse 15 minutos do seu programa e, na semana seguinte, por gentileza do padre teve 15 minutos a mais. Foram 30 excelentes minutos ecumênicos. Os fiéis da igreja evangélica ficaram sabendo do respeito entre o padre; os da igreja católica sentiram, nas palavras do pastor, a amizade dele pelo padre e pelos católicos. Nenhum dos dois teve medo de chamar à outra de igreja cristã e nenhum se esqueceu que naqueles quinze minutos a mais estava falando a fiéis da outra igreja. O gesto encantou a cidade que viu a diferença entre as atitudes dois pregadores e a de outros que encontram enorme dificuldade de ouvir alguém de outra convicção ou de deixá-lo falar.
O que se poderá esperar de igrejas que assumem tais gestos, senão graça sobre graça? Significa que uma não tem medo da outra e não há desconfianças, ainda que haja pontos de divergência. Mas a divergência não vira guerra, nem a discordância se torna discórdia.
Se crer, em latim, vem de “credere: cor-dare: dar o coração” a fé tem que ser gentil. Se, como está em outras línguas, vem de prestar atenção, de viver a “theoria”: isto é: a abrangência, a contemplação a mente aberta e não apenas a phronesis, que seria o pragmatismo imediatista, a busca aquilo que não passa um palmo além do nariz, então crente de verdade quem carrega mente e coração aberto.
Trinta minutos de gentileza fizeram mais pelo Reino de Deus vivido pelas duas igrejas do que teriam feito meses de pregação sem gentileza. Os crentes e os tementes a Deus têm o direito ás suas conclusões e convicções, e, por isso mesmo, o direito de discordar. O que não podem é fugir ao dever de amar e ser irmãos. Ninguém deixa de ser irmão porque discorda. Mas o que desrespeita e não cede em nada perde a chance de mudar este planeta. Ceder 15 minutos para a outra igreja pode ser o começo de uma era de admiração mútua e de diálogo maduro sobre as semelhanças e as diferenças.
Bons jardineiros sabem o que fazer com as diferenças entre as flores. Sabem até o que fazer com os espinhos. Os outros, infelizmente, pensam que, ao declarar que rosas vermelhas não são rosas de verdade, mudam a natureza delas. Mas elas continuam rosas... Mesmo diferentes, quando adequadamente ajeitadas, rosas brancas, amarelas e vermelhas costumam formar um lindo buquê.

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